Fazer exercícios físicos e dedicar um tempo à leitura são as atividades
mais postergadas por brasileiros, segundo pesquisa. Diferentemente de se
casar e comprar um imóvel, planos que têm lugar cativo na lista de
prioridades.
Ainda é cedo, o despertador toca, mas logo o botão “soneca” é
ativado. Afinal, mais 10 minutinhos não matam ninguém. Outros dois,
três, quatro chamados e não dá mais para postergar, o dia chama e tem
pressa. Depois do café, toda aquela louça na pia pede para ser lavada,
mas só na hora do almoço. Melhor, ela pode esperar até o jantar. No
trabalho, a caixa de e-mails está lotada e você não sabe por onde
começar. Os dias passam e, depois de uma semana, você percebe que
esqueceu de dar aquela resposta importante. Em casa, o livro comprado há
mais de mês continua enfeitando o criado-mudo e o marcador ainda aponta
para as primeiras páginas. Adiar, adiar e adiar. Das mais simples e
corriqueiras às mais complexas tarefas, várias vezes nos pegamos
deixando para depois o que deveríamos ter feito ontem.
Em uma
pesquisa aplicada pela internet, 97,4% entre os mais de 4 mil
participantes de 22 estados brasileiros entrevistados admitiram
procrastinar atividades ao longo de suas rotinas. O levantamento
realizado pela empresa Triad Productivity Solutions revelou que as
quatro coisas que as pessoas mais adiam são exercício físico, leitura,
saúde e planejamento financeiro (veja quadro). Do lado oposto,
casamento, comprar um apartamento, mudar de emprego e férias são as
atividades que as pessoas menos protelam.
A idade média dos
participantes que responderam ao questionário on-line é de 32 anos,
sendo 56% homens e 44% mulheres. Do total, 80% estão atualmente
empregados e 60% são solteiros. De acordo com Christian Barbosa, um dos
organizadores da pesquisa, aquilo que é pessoal e que não é socialmente
cobrado está entre as principais coisas que as pessoas vão deixando
eternamente para depois. “O exercício físico, por exemplo, não é como
uma tarefa que você tem de desempenhar no seu emprego. Não tem cobrança
externa, de um chefe, ou de qualquer outro terceiro. É você com você
mesmo”, explica Barbosa.
Fernanda da Rocha Teixeira tem apenas
25 anos e já é dona do próprio escritório de advocacia. Sua área de
atuação é em direito trabalhista. Todos os dias, antes das 9h, Fernanda
está em alguma audiência nos tribunais da cidade ou analisando uma pilha
de processos em sua sala. Os prazos sempre apertados e a rotina
cansativa fizeram com que a advogada, só na semana passada, cancelasse
três consultas médicas.Em meio à correria, os exercícios físicos também
vão ficando para trás.
“Tem dois anos que comecei a advogar e,
nesse período, já engordei oito quilos. Minha nutricionista já me deu
até uma bronca. Antes, eu tinha uma vida muito mais regrada, com uma
alimentação bem melhor. Agora, há dias que eu não tenho tempo de almoçar
direito, só faço um lanche depois da audiência”, conta. A grade horário
também a faz “matar” quase toda semana a aula de balé, iniciada há três
meses. O jeito encontrado por Fernanda para não abandonar de vez os
exercícios físico é levar um patins no porta-malas do carro. “Assim,
quando eu saio um pouco mais cedo do trabalho e ainda tenho algum ânimo,
vou para o Parque da Cidade e patino”, conta.
Mas há dias que a
preguiça mental e física são tão grandes que, mesmo quando sobra tempo,
a única coisa que Fernanda quer é algo que não exija pensar muito nem
mexer o corpo. “Quero descanso total, ver um filme, tevê, escutar
música. Às vezes, não tenho ânimo nem para encarar meus livros pessoais.
Eu estou com dois empacados, um é a biografia da Frida Khalo, que já
está no final, mas eu não consegui terminar. E o outro é o On the road.”
Se exercícios físicos, livros e consultas médicas ficam para
depois, a compra do primeiro imóvel não esperou nem 15 dias. Quando a
jovem advogada resolveu que era a hora de ter a própria sala comercial,
procurou uma imobiliária, viu as melhores opções e logo financiou uma
unidade, ainda na planta, no primeiro lote de vendas do empreendimento.
“Em dois anos, minha sala já estará pronta”, empolga-se. Segundo
Marcelo, falta energia para realizar uma série de atividades
Boom econômico
De
acordo com Barbosa, a agilidade em se casar e comprar imóveis tem a ver
com o boom econômico vivenciado no Brasil nos últimos anos. “Juntou a
fome com a vontade de comer, já que o momento econômico está propício.
As pessoas agora têm a oportunidade de comprar a própria casa e querem
fazer planos para a vida a dois.”
Já os motivos que levam as
pessoas a procrastinarem tarefas corriqueiras, segundo o especialista,
são muitos. Entre os apontados pelos entrevistados, o que mais apareceu
foi a distração com a internet. Esse é o caso da estudante de
publicidade Gabriela Gonçalves. Aos 20 anos, a jovem trabalha em uma
agência de comunicação e é uma das responsáveis pelas mídias sociais dos
clientes da empresa. Sua função é justamente ficar conectada o tempo
todo no Facebook, no Twitter, no Foursquare e por aí vai. “Enquanto
estou no computador, fico nas redes sociais. Isso no trabalho, mas
também quando chego em casa ou mesmo do celular. É o tempo todo
conectada”, conta.
Já que trabalha de manhã e à tarde e estuda à
noite, Gabriela conta que o único momento que sobra para cuidar da
saúde é a hora do almoço. “Eu fazia academia nesse horário, mas, de um
tempo para cá, não tenho ido mais porque fico no computador. Quando
vejo, já acabou meu intervalo do almoço e eu nem levantei da cadeira”,
conta. A jovem admite que, muitas vezes, ela se “autossabota” e esquece a
bolsa da academia em casa para ter uma boa desculpa para a falta. “Acho
que eu acabo adiando muita coisa na minha vida. Me incomoda um pouco,
sei que dava para eu ter uma vida mais saudável, mas é mais forte do que
eu”, confessa Gabriela.
Na lista dos motivos pelos quais as
pessoas procrastinam as mais diversas atividades, o segundo a aparecer é
a falta de energia: mal que abate as pessoas que vivem cansadas e que
está longe de ser a exceção nos dias de hoje. Marcelo Rodrigues Moura
tem 36 anos e é gerente de dois estabelecimentos gastronômicos do
Complexo Empresarial Brasil 21. Todo dia, chega ao trabalho às 7h e só
sai depois das 22h. “Quando penso em fazer exercício físico, fico com
preguiça. Quase nunca procuro um médico também. Às vezes, a gente tem
planos para fazer tudo isso quando tiver uma folga, mas quando consegue,
você só pensa em dormir, não dá vontade nem de arrumar a casa”, conta.
Marcelo complementa que, ultimamente, não tem feito nada além do
trabalho, já que, mesmo em casa, as preocupações com as obrigações da
gerência continuam.
Sinal de alerta
De
acordo com Barbosa, apesar de ser muito comum ouvir que o Brasil é o
país da última hora, que somos culturalmente procrastinadores, não há
nada de errado em postergar de vez em quando. O problema é quando isso
começa a ficar crônico e as pessoas passam a adiar com frequência coisas
importantes, como a saúde e os próprios sonhos. Barbosa conta que uma
pesquisa semelhante realizada anteriormente em Stanford, nos Estados
Unidos, detectou que o mesmo acontece com os norte-americanos. “Mas
chegou-se à conclusão de que é possível chegar, por exemplo, ao topo da
carreira com qualidade de vida. Vários presidentes de grandes empresas
conseguem isso porque tiveram a habilidade de treinar o cérebro para
quebrar a procrastinação”, alerta.
Para a professora de
sociologia da Universidade de Brasília Mariza Veloso, colocar o
brasileiro como procrastinador é um estereótipo, mas, de certa forma,
também uma verdade. “Isso porque o brasileiro foge da mentalidade
capitalista, racionalizante. O Brasil representa uma modernidade muito
diferenciada. Nosso tempo é outro, não é tão cronometrado. Somos uma
fusão do arcaico com o moderno”, avalia. Segundo ela, é a junção de
todos esses resquícios que acabam por refletir em nosso comportamento.
“O
Brasil representa uma modernidade muito diferenciada. Nosso tempo é
outro, não é tão cronometrado. Somos uma fusão do arcaico com o moderno”
Mariza Veloso, professora de sociologia da Universidade de Brasília ´
Fonte: Correioweb, via Portal da Ed. Física
Temos como intuito postar notícias relevantes que foram divulgadas pela mídia e são de interesse do curso abordado neste blog. E por isso esta matéria foi retirada na íntegra da fonte acima citada, portanto, pertencem a ela todos os créditos autorais.
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