terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Energéticos podem ajudar no treino, mas uso requer cuidados

As bebidas energéticas estão começando a mudar seu alvo. Depois de conquistar os mercados nacional e internacional com apelo aos baladeiros de plantão, elas partem em busca de atletas e esportistas amadores.

Essa nova sugestão de consumo, associada à prática de exercícios, requer cautela e atenção antes de ser adotada. Afinal, o uso de energéticos em festas e casas noturnas tem gerado problemas mundo afora. Os Estados Unidos registraram casos de jovens que adoeceram ou morreram após misturar energéticos com bebidas alcoólicas, como vodca e uísque.

Uma marca local da bebida, já comercializada com álcool, teve sua venda proibida depois de uma breve batalha judicial. As autoridades norte-americanas deram seu parecer com base em estudos sobre a associação da cafeína, estimulante usado nos energéticos, com álcool. O efeito letárgico do álcool seria minimizado pela cafeína, de acordo com as pesquisas, e isso impediria os usuários de perceberem o quão bêbados estariam.

Nas atividades esportivas, o consumo do álcool é retirado da equação. Mas o corpo entra em condições bem específicas, repletas de alterações metabólicas, quando forçado por exercícios de fôlego ou força. E tais condições podem criar um novo cenário, ainda pouco estudado, para interagir com os energéticos.

A maioria das bebidas energéticas concentra uma quantidade de cafeína equivalente a duas xícaras de café, além de um aminoácido chamado taurina, que teria a capacidade de potencializar o efeito estimulante. Alguns energéticos ainda contém uma dose razoável de carboidratos e vitaminas do complexo B.

“A cafeína aumenta a temperatura do corpo e acelera a queima de gordura durante os exercícios”, afirma Mohamad Barakat, endocrinologista e fisiologista do exercício. Praticante de tênis, o médico admite usar uma nova marca de energético quase diariamente para suportar a rotina de treinos e consultas. O produto é vendido em doses de 60 ml, sem açúcar e sem necessidade de refrigeração, pode ser ingerido à temperatura ambiente.

“Não há problema em usar diariamente”, garante o médico. “Até duas doses podem ser tomadas todo dia, desde que se respeite um intervalo de seis horas entre elas”, afirma o especialista.

Restrições

O energético proporciona um efeito interessante no organismo e pode realmente auxiliar o desempenho físico. Contudo, o produto é um estimulante e muito provavelmente irá prejudicar a qualidade do sono, se ingerido após as 18h. “Pessoas com insônia devem evitar”, recomenda o fisiologista do exercício.

A cafeína também pode causar irritação no aparelho digestivo, especialmente em pessoas que já tenham alguma predisposição ou doença. “Quem sofre de refluxo e gastrite deve evitar”, recomenda o cardiologista e especialista em medicina do esporte José Kawazoe Lazzoli, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte.

O consumo de energéticos por hipertensos também é algo delicado. Os médicos não chegam a proibir, mas alertam que a cafeína pode aumentar a pressão arterial. Por isso o consumo da bebida não deve ser realizado antes de uma boa conversa com o médico de confiança. O mesmo vale para cardiopatas.

Hidratação, carboidrato e proteína

Os médicos também concordam que o energético está longe de ser o suplemento ideal para qualquer atividade física. “Ele é um estimulante, dá mais garra”, afirma Kawazoe. Mas o esportista, seja profissional ou amador, não deve esquecer de duas coisas: hidratação e uma boa fonte de energia.

No caso de atividades aeróbicas, como corrida e ciclismo, a fonte de energia mais consumida pelo organismo é o carboidrato, encontrado em alimentos como macarrão e batata. Vale lembrar que bem todos os energéticos contêm tal substância. Já a musculação requer proteínas, mais presentes nas carnes.

É recomendada uma avaliação nutricional aos esportistas, feita por médicos especialistas em fisiologia do exercício, para adequar a dieta às necessidades de cada pessoa, considerando o ritmo de treino e demais atividades cotidianas. “Dependendo do caso, é preciso usar algum suplemento”, diz Kawazoe. Tanto o carboidrato quanto a proteína podem ser encontrados na forma de suplementos, disponibilizados por diversas marcas nacionais e estrangeiras.

Praticidade versus preço

Kawazoe considera fundamental o equilíbrio nutricional e tempo adequado de descanso para um treino saudável. “O energético não é necessário para um bom rendimento. Não vou censurar quem usa, mas não acho fundamental”, afirma.

Além disso, o custo é meio salgado. Cada latinha com 250 ml é vendida por R$ 4, em média. Algumas marcas são bem mais caras. “Uma pessoa que faz academia quatro vezes por semana e toma energético em todo treino vai gastar o mesmo que um bom suplemento de proteína. Acho que isso ajuda mais na recuperação do músculo. Acho mais proveitoso, mais coerente”, avalia o médico.

Em contrapartida, a rotina desgastante das grandes cidades torna difícil cumprir os ciclos adequados de descanso todos os dias. Agenda lotada, imprevistos, trânsito... são muitos os fatores que podem sugar a energia e prejudicar o treino.

“Acho o energético uma alternativa prática contra isso. Jogo tênis, cuido das minhas filhas e tenho uma agenda que às vezes vai até 23h. Se preciso, tomo duas doses por dia”, afirma.

Cada dose custa, em média, R$ 6. Quem acha pesado para o bolso pode resgatar uma fórmula antiga de energético, bem mais barata e que também usa cafeína como princípio ativo: o pó de guaraná. “Ele está meio fora de moda, mas é um bom estimulante também”, afirma Kawazoe.
Por Bruno Folli, retirado do site IG

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