quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pessoas com tatuagens tem restrições para treinar nas academias no Japão

As jogadoras mais experientes da seleção brasileira já estão até acostumadas. Basta tirar o agasalho e exibir as tatuagens dos aros olímpicos de Pequim-2008, que os rostos dos japoneses viram de lado. Ou então, uma reação oposta: olham fixo para entender o que significa. A atitude espontânea tem um motivo. No Japão, desenhos de tinta pelo corpo costumam ser usados para identificar membros da máfia do país, a Yakuza. Por isso, em alguns lugares, há o preconceito contra os corpos tatuados. Em algumas academias de ginástica, por exemplo, quem tem o corpo marcado não pode entrar.

Em Hamamatsu, Wakuda Chikara, dono da academia Hop, onde trabalha o personal trainer brasileiro Paulo Okiishi, explica que as grandes redes colocam um campo de preenchimento nos formulários de inscrição para saber se os clientes em potencial têm tatuagens. Se a resposta for "sim", são impedidos de se matricular.

- Como é comum que idosos também frequentem academias aqui, precisamos ter cuidado para não haver conflitos. Eles não entendem que o conceito mudou, que tatuagem é algo mais ligado à moda agora. As grandes redes têm medo de perder clientes e, por isso, preferem evitar o confronto. Como a minha academia é pequena, tenho condições de conversar com cada um e mostrar um novo jeito de enxergar quem tem tatuagem. Mas sinto que a mentalidade já está mudando. Essa proibição deve acabar daqui a uns cinco anos, no máximo – afirmou o japonês, que permite a entrada de tatuados em seu estabelecimento.

Com dez tatuagens espalhadas pelo corpo, Fabi já nem se importa mais com o espanto dos japoneses. A líbero acha curioso o interesse de torcedores e da imprensa local pelos desenhos.

- Eu acho engraçado porque dá para ver que eles ficam tentando focar a câmera na tatuagem quando a gente está treinando. É um choque de cultura mesmo. Agora, você vê: brasileiro adora fazer tatuagem de símbolos japoneses. Eu mesma tenho três (ideogramas de “sagacidade” e “mãe”, e a bola do Mundial). Já eles mesmos, não gostam (risos). Só sei que eu amo as minhas e quero fazer sempre mais.

Além dos ideogramas, Fabi tem os aros olímpicos tatuados no pé. Assim como ela, Thaisa resolveu gravá-los no braço para lembrar da conquista do ouro nos Jogos de Pequim. A central da seleção não sabia que a tatuagem era mal vista pelos japoneses, mas compreende.

- Não é legal criticar a cultura dos outros. Eles têm razões para pensar assim. Comigo, nunca senti nenhum preconceito. Tenho cinco tatuagens e já penso em fazer a sexta. Quem sabe? Se a gente conquistar o Mundial, eu posso aumentar a minha coleção.

Brasileira sofre preconceito nas ruas de Hamamatsu


Isabel Nagamine credita à tatuagem que fez no ombro a guinada que deu em sua vida. Com colesterol alto e sem autoestima, a brasileira decidiu que era hora de cuidar mais de sua saúde e tentou entrar em uma academia em Hamamatsu. Não foi aceita na primeira, mas conseguiu vaga em seguida.

- Tentei fazer matrícula perto de casa e não deixaram. Nem eu, nem minha filha. Achei um absurdo. Minha tatuagem representa força para mim. Mas eles aqui olham com preconceito. Sinto isso nas ruas. Viram o rosto, se eu estou com uma blusa sem manga – revela a brasileira, que, depois que começou a malhar, já conseguiu completar a corrida de 10km.
Por Mariana Kneip, retirado do site Portal da Ed. Física.

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